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tudodenovomesmo
Wednesday, March 31, 2004
 
Nosso amigo wunderkind


Dante sente o sal do meu rosto na janela do ônibus e reza por mim.

Sente se eu não consigo dormir nem escrever, sabe que estou chegando quando marcamos encontro.

Dante é capaz de captar a ansiedade escondida embaixo da minha língua e dizer : “você era a única pessoa naquele lugar com cara de quem esperava alguém”.

Dante vela meu sono e meu caminho.

Me conta quando o que eu trouxe fez bem, o que aconteceu depois.
No começo Dante também me dizia que eu não falava de Deus, e que isso era significativo.

Dizia que eu não me libertava do ego e achava que o que ele falava era para mim ou cabia a mim dar uma resposta.

Era verdade.

Dante contou que no Japão cada cerejeira e cada flor são tratadas com o máximo de atenção pela escassez.

Disse que não devemos achar que uma pessoa errou por não ter tido nossa ajuda. Disse que não devemos nos colocar num lugar superior a alguém.

Dante falou de Aristóteles, de Joyce, de Cranberries, de Walt Whitman.. E lá estava a alegria de novo.

Dante me mostrou que a vida é uma celebração.

Dante elogiou o meu corpo. E o que eu escrevo.

Dante sabe como comer bem, aonde e por quanto.

Dante conhece meu lado insuportável, meus começos e eternos começos, minhas cartas, minhas mesmas questões. Meu lado cínico, rude, frágil, apaixonado.

Chegando bem de perto, você sente o cheiro e a voz.

Chegando mais perto, escuta desejos delicados, de molhar seu rosto a vida toda só de lembrar.

O que alguém pode desejar de bom. O que alguém pode dividir com você, do fundo da alma com o corpo todo.

Enche um balão com um elogio que vai aparecer num dos meus sonhos. É assim que eu acordo de bom humor.

Dante, os filmes, os livros, os jornais, descobriu meus dois lados, me mostrou no espelho difícil onde eu patinava, onde os argumentos não colavam, como cada um dos meus preconceitos me arrancava oportunidades, mostrou as oportunidades escondidas, os exemplares da biblioteca que aumentariam meu amor pelos livros. E não só pelos livros. O Amor, Aquele.

O que precisaria ser resgatado, o que precisaria despertar. Despertando. Agora. Ainda.

Dante se assustou quando eu contei que não sabia a capital de nenhum estado.

Dante faz pelos amigos alguma coisa boa de fazer por qualquer pessoa que você gosta: preencher.

E sabe que uma coisa é preencher e outra é querer dirigir.

Meu querido amigo Dante Gabriel, você mostrou os escritores, os diretores, os contos, os desenhos, as histórias em quadrinhos, os guardanapos, a sinceridade, a fé que estava apagada, os passeios no centro, amigos, você também sugeriu que eu fizesse um blog.

E desenhou todas as saídas, as que eu tinha nos bolsos, as que descobrimos juntos. E outras que caíram como chuva na minha cabeça, macias, da sua boca.

E despertou o que tinha amanhecido em mim, abriu as janelas dos quartos escuros, me tirou idéias ruins da gaveta, me fez chorar quando li a história das meninas, aquela que começava com uns tiros, já deve ter mudado, mas tinha um grande começo, eu adoro aquela abertura.

Dante me trouxe Bruna, Victória, Mara.

Dante me apresentou pessoas que estão lendo isso aqui. Pessoas queridas.

Me mostrou que eu não precisava conhecer as palavras difíceis para começar a escrever. E tudo começou a ficar muito mais possível do que antes. E tem sido assim desde então.

É tão bom saber que experimentamos esses anos juntos. E que quando eu trocava o maço de marlboro pelo cigarro de camelo você perguntava: “mas aonde você quer chegar com isso?” e essa podia ser então a minha primeira risada do dia.

Mas agora eu não fumo mais. E você sorriu quando soube, com aquele seu silêncio de cobertor, de amigo de sempre.

Eu fico feliz por tudo isso, por você estar perto sempre, de um jeito só seu, cada vez mais sereno, cada vez mais contente. Mais forte, mais sensível, mostrando caminhos, conferindo caminhos que nós mostramos para você.

Fazendo posts que falam comigo. Fazendo posts que são feitos para guardar, para comentar, para dar de presente.

Eu só me arrependo da vulgaridade, da ignorância, da preguiça de conhecer as coisas que é tão feia e que, quando vencida, me coloca num daqueles lugares onde os sonhos são parte de mim. Onde os sonhos estão acontecendo.

E por todas essas coisas, mas principalmente pelo seu coração que fica cada vez mais transparente e mais bonito é que eu te desejo um Feliz Aniversário, cheio de amigos e de bebidas, de idéias, de coração cheio.

Daquela que sempre fica sem palavras no final, mas dessa vez, com toda a alegria do mundo.

Dante, também tenho muita fé no seu sorriso.

Obrigada por tudo o que fizemos juntos. E me desculpa se dessa vez eu falei demais. Homenagem é homenagem.

Um beijo.
Da Lorena, da Camila e meu.



Mundo cinzento, seja um Mundo Prateado.
De uma vez por todas e para sempre.




Tuesday, March 30, 2004
 
Dante

a minha relação com seus elogios é tão honesta. cheguei em casa, não fui na aula sobre o Baudelaire, fique conversando sobre escrever, publicar... Daí um amigo me dá aquela acordada falando das coisas que ele leu, que tudo está em pedaços, que não tem corpo ainda. E é verdade. Não tem corpo ainda. Estou nesse lado estranho que é o começo. Ainda o começo e o nome do blog cai como uma luva. Ainda assim, você fala sobre isso no blog (para variar você sente as coisas que estão faltando no meu ouvido antes de dormir) e esse começo promete. Essa sua fase de posts para guardar, e nossa amizade e seus amigos. Um dia de cada vez, escrever. Escrever. Parece com a costura.

Obrigada.


 
Mariana nas alturas


A cidade de São Paulo reserva cenas melancólicas e fins de tarde intermináveis para quem ainda não conhece Mariana.

Mariana é a parte da mulher que pode morder um pedaço de bolo maior do que a boca sem nenhuma vergonha na cara.

Quando alguém encontra Mariana num café no fim de tarde, abrindo caminho entre as mesas com seu corte de cabelo novo e um olhar sem vaidade, deslumbrando a cara dos fregueses sem cobrar couvert, fechando casos de amor e loucura na cabeça de quem recebe o disparo de sua presença, pode ter certeza de que acaba de ganhar um presente que não pode abrir. Porque Mariana é o que na mulher chama-se Paisagem.

Não é possível encontrar aquele segundo instante de compaixão ou ensaio de interesse e convite que outras mulheres deixam à disposição dos mortais porque estão habituadas ou porque a solidão de alguém está raspando um gosto difícil e tão conhecido na boca. Mariana não, não gasta seu trapézio com a vista de miseráveis admiradores. Faz como quem respira: é bonita, e está pensando em outra coisa.

Mariana está pensando em algo que começou no desenho do relevo dos lençóis hoje de manhã e que depois de uma noite de sono profundo acabou misturado à pele, nas páginas do livro, num detalhe do brinco e agora mergulha no rodopio que a colherinha faz antes dela beber o café.

A pergunta cola nos lábios, escrita e esquecida, formando a constelação de poemas lidos e homens dormindo que passaram pelo nosso olhar inquieto e às vezes modesto.

Depois são passos que escrevem as perguntas nos muros da cidade, nas frestas das casas, nas caixa de correio, até que alguém comece a pensar por nós duas, encontre essa pergunta e alivie um pouco esse trabalho de novelo e retalho.

Até que o gosto de aventura e a pergunta comecem a namorar.

Mariana é a parte da mulher que anda de bicicleta de madrugada, que vai nadar sozinha e olhar para o céu, pensando naquela pergunta só sua, que uma estrela acabou de formar.

Mariana é minha voz mais apressada, a voz que me tira o peso e que me deixa livre para andar mais rápido, não importa se de olhos fechados.

Mariana é aquela minha blusa comprada em qualquer lugar que me cai tão bem e me deixa personagem de romance. Mariana é minha querida amiga que ilumina minha vida em fatias de doce de laranja e bananinhas.

Feliz Aniversário, minha amiga, minha aventura, a versão mais leve e mais rápida das histórias que eu vivi e junto de ti, posso contar. Você é mais leve que as nuvens de domingo, mais leve que as andorinhas, mesmo com este seu lado flor vermelha, cheia de pétalas grossas que dá vontade de botar na boca ou fazer chá.

Tudo de bom para você nesse aniversário cheio de mudanças, órbitas, cometas, meteoros, estrelas cadentes, planetas congelados, fervendo, a lua, o sol queimando.

Todas as aventuras, o recolhimento, o outono, e a primavera e a maçã do amor e o chocolate.

Mari, tenho muita fé nesse caminho. Na beleza que você inspira mesmo sem perceber e naquela que me preenche, mistura da sua maneira de criar e de andar pelas paredes, dando estrelas, chutando bola e deixando quem te conheceu falar no seu nome como quem guarda uma prece.

Somos muito gratas. E além disso, eu te adoro.

Um beijo,
Daquela sua amiga de sempre.

Monday, March 29, 2004
 
adiando


estou adiando abrir o word e escrever sobre as coisas que vi nos olhos do leão. estou tomando fôlego. sei que é longe. preciso de tempo, de um tempo preciso. o tempo de respirar fundo. inadiável. vai me mordendo.
 
ela trança as pernas

por enquanto é para não enlouquecer, para não sentir tristeza à toa.

é meio estranho você estar dentro de você. sabe estranhar coisas muito óbvias? eu sempre faço isso. estranho que eu pense em escrever e que escrever seja tão rapidamente ligado ao fato de eu ter pensado "escrever".

estranho que o pensamento esteja na minha cabeça e não faça barulho. estranho a cara daquelas pessoas da faculdade. na História as pessoas são bonitas, podem falar que tem barbudo, as pessoas são mais bonitas sim. acho que são ondas, acho que as pessoas são como bandos de insetos, farejando o bueiro certo.

estou no bueiro errado. mas vai acabar.

o olhar de todo mundo lá dentro está se esvaziando.

olhares e olhares sem nenhuma palavra dentro.

scary, my friend.

e a esperança, no silêncio da professora francesa que me chama pelo nome.

no meio do escuro, quem brilha irradia milhões de vezes mais luz e mais sensualidade e mais alegria, mesmo que o seu dia tenha sido ruim.

no meio do escuro, quem está alegre machuca quem não está, mas isso não parece natural.

no meio do escuro, quem não está no escuro brilha seu secreto e escandaloso tremor, seu licor delicado, o cheiro da pele, não importa quantos casacos. sim, um pouco de fé. fé na colher, na boca da menina bonita. ela se veste sempre e sempre com casacos, duas camisetas, cabelo curto e quando dá uma risada na sala de aula, quebra todos os vidros e parece depravada. é uma risada maravilhosa, um escândalo grave, algo que me tira todas as forças e todos os nós.

ela sabe, ela sabe e faz desse jeito porque é assim que ela devolve a agressão daqueles olhares sem rosto.

fica mais bonita que tudo e limpa meu pulmão.

hoje ela perguntou por que estavam rindo na hora dela falar. sente o peso sozinha, orgulhosa.

ela me ajuda a escrever.

não.

ela me ajuda a continuar.




Thursday, March 25, 2004
 
No escuro:

- Aconteceu alguma coisa com você hoje.
- Por que?
- Você está diferente.
- É que eu não estou falando com a minha voz.

Sábado para Lorena

Lorena acordou. Espreguiçou os olhos por todo o quarto. Vestiu o lençol limpo. Manchou o espelho de beijos, foi até a sacada. Era Sábado. Seu melhor amigo. Os dedos coçavam a cabeça como se fossem arrancar um segredo. Mas não havia nada além do vai e vem que arrepiava a nuca. Quando os olhos fecham, fugindo da luz, o rosto se dá ao trabalho de continuar uma expressão de sofrimento discreto, como cada um de seus sorrisos depois de uma droga (e depois de gargalhar pela noite, descer e subir as escadas sem roupa, só para mostrar a bunda). A noite, sua melhor amiga. A madrugada, sua irmãzinha. Difícil gostar da madrugada. Passear no asfalto, contemplar a cidade, rir de si mesmo. Momento elegantes.

Lóri penteia o cabelo, passa creme, esmalte, fica dando ordens de frente para o espelho, pedindo socorro, tirando a roupa, dublando a Tori Amos e de vez em quando convida Mauro para jantar. Quando ele chega, ela está sempre escondida e quase sempre fantasiada. Eles bebem a noite inteira e tem dias que só dormem juntos se ele dublar o Elvis em cima da cama. Lóri passa bem.


Wednesday, March 24, 2004
 
Um passo errado me acerta
Anjos carregam revólver
O dia escorrega lento
Para as mãos do remorso.

A raiva bloqueia o ânimo
Um sopro descola meus planos
Meu passo é um erro acertado
Nas palmas do romance.

Teu nome visita meu corpo
Todas as letras se beijam
Teu nome é um sonho bem vindo
Carne salgada e cereja.

Abro as portas abertas
Fecho segredos lacrados
Ausente, sou o divórcio
Cumprimento meus medos.

Demônios mastigam meu corpo
Meu coração é triturado
Cerne moído, molhado
Os anjos morderam metade.

- O resto é seu.


2003.


 
As árvores

Um amigo está corrigindo provas de um cursinho e disse hoje: "E agora árvore é objeto?!"

Na hora eu fiquei meio assim, sem ter o que dizer. Eu nunca entendi a definição de objeto. É só mesa e cadeira? Tudo bem, "mas ela vive num mundo só dela"... Os nomes da gramática nunca fizeram muito sentido para mim. E esse aluno escolheu uma árvore para descrever. Não é bonito?

Uma das coisas mais encantadoras que eu ouvi nos últimos tempos veio de uma garota de vinte anos que me disse que adora árvores. É minha irmã. E quando vamos passear o cachorro ela fica olhando para as árvores e dizendo: "Olha essa..!".

Pode não parecer tão especial, mas se você tivesse visto ela no palco, cantando e tocando guitarra e depois na pracinha, balançando no balanço, subindo no trepa-trepa para olhar as árvores... Ela tem esses momentos... suaves. Ela esconde isso dentro do cabelo, eu acho. Mas aparece, ou melhor dizendo: escorre, jorra, flui, espalha, corre para todos os lados. Dá para sentir só pelo cheiro.

Hoje eu estava indo para aquela faculdade que não preciso escrever aqui, e olhei para as árvores do caminho. Elas estavam tão estranhas, tão cheias de curvas, curvas improváveis, uma dança parada, sinisitra, linda, que parecia me dizer muita coisa. Eu senti ... eu senti. Não tem sido fácil olhar para as árvores.

Na mesma hora em que eu estava pensando sobre o que um amigo me escreveu do filme "A Paixão do Cristo"...

E me ocorreu olhar para as minhas mãos. E quando eu olho para as minhas mãos elas estão dizendo alguma coisa parecida com o que estão dizendo aquelas árvores.

Está tudo escrito.




 
Já cumprimentou seu medo hoje?

Do que eu tenho medo? De coisas grandes. E o momento está para coisas grandes, gigantes. Mas não a destruição, essa que estamos conhecendo de tantas formas diferentes e essa que dá um sentimento ruim bem profundo numa ou notra hora do dia, e te faz escrever a um amigo, abraçar alguém, fazer um elogio, ir pelo caminho do gramado, onde bate sol. E eu penso, não é somente resistir, é ousar construir, tocar, ser tocado. Não é mudar o jogo, é fazer outro movimento. Fazer outros movimentos. Porque se é para falar de crise, se é para falar de medo, eu quero falar de medo das Coisas Grandes, do medo de se emocionar e perder um pouco do nome. Uma perna de alguma letra que seja, um acento, mas perder um pouco do nome, isso dá medo. As renúncias espirituais que estão escritas pelo caminho, os desafios que vão se multiplicar. Cumprimente seus medos, leitor. Eu cumprimento os meus de vez em quando. Depois os sorrisos tão estranhos que chovem em cima de você, sorrisos sem forma, mágicas sem truque, hot–dogs sem salsicha. Depois, os sorrisos de dentro e os sorrisos no escuro, os sorrisos que dançam com as minhas pernas. Sorrisos difíceis. Estou começando a tocar sorrisos difíceis. Cada coisa que eu escrevo, aqui...

Tuesday, March 23, 2004
 
Bom dia

Começou a galeria de desejos que não se cumprem nunca: dormir, chorar, gargalhar mais de três vezes. Havia os livros e a dor de cabeça alucinante. Lembrou que não podia forçar a vista, lembrou que não podia pegar friagem porque estava calor. Pelo menos o calor poderia estar sufocante ao ponto de permitir a realização de um dos desejos. Luxos de quem tem pouca idade. Luxos de quem ainda não tem certeza do próprio sexo. Já tinha chegado em casa e já tinha trocado de roupa. Amanhecia. Saiu para a rua com um maço de notas verdes. Entrou na padaria, sentiu o bafo do café chover na ponta do nariz. Antes de beber, levantou os olhos e viu um corpo cintilante borrar o balcão de vermelho. Lá estava ela.

Lorena se cobria com um vestido preto e um avental azul por cima. Era um avental grosso inteiro folheado de tinta. Tragava e fungava e olhava para o mundo como quem dá pequenos soluços, fixando-se num detalhe qualquer, completamente absorta no momento seguinte.

Os cabelos oleosos como pontas de pincéis escorregavam sobre a face azulada e os tamancos sapateavam bee-bop no chão. A manga do avental era mais comprida que o normal, de modo que só as pontas dos dedos, o pescoço e as canelas ficavam descobertas. Estava calor e ela não parecia notar a diferença. Pediu um pão na chapa e um café expresso. Sentou no balcão. Finalmente olhou para os lados e viu um casal de pochete e viseira, um velho sonolento tomando vitamina e Mauro, com o nariz molhado de vapor.

Uma pequena gota se desprendeu do nariz e caiu dentro do copo. Sua boca continuava aberta e seu rosto estava um tanto desabituado, tinha uma expressão débil de quem se afunda no cinema antes de chorar. Lorena deu Bom Dia, como se já o tivesse visto ou como se fossem do mesmo prédio. Mauro respondeu com um Oi, no exato momento em que todas a faculdades do seu cérebro retomaram atividade, o garçom depositou um pão de queijo num pires na sua frente, e o pão de queijo começou a sorrir, gordinho, amarelado e esperando a mordida para soltar fumaça.

Hora de pagar. Lorena tira trocados do avental, ele faz a gentileza, acrescenta um maço de cigarros e um alpino. Ela sorri e diz: “Sabe o que a gente precisa fazer agora?”

A manhã começa com um longo abraço.



 
Colar para nós duas

(o seu com um peixinho, um leão, a virgem, o meu cheio de contas francesas, como você disse que seria)( de vez em quando preciso dizer tudo de novo. Você sabe...será sempre dessa cor, azul indo para o vermelho, e nós duas olhando, você esperando o lilás, eu o verde)


1.
Eu preferia a prosa e você preferia a poesia. Eu tinha me cansado de dormir tarde, você nascia de madrugada. Éramos duas viciadas. Você canta sozinha no meu coração.
Uma preferia cigarros de filtro branco, a outra, amarelo. Passeando pela floresta de arame farpado e rolando sobre algodão doce, um contingente de homens desesperados ultrapassados por uma garota de skate e outra de patins.

Uma de nós chorava com muita facilidade e outra não chorava nunca, mesmo soluçando. Uma de nós amava com o corpo todo. A outra também.

2.
Era o gosto pelo desastre? Disseram que não respeitávamos qualquer autoridade, disseram que isso era um problema. Era um problema. Disseram que sentíamos auto piedade e que viveríamos sozinhas até os quarenta anos, quando continuaríamos sozinhas, e amargas. Disseram que desistíamos com muita facilidade, porque éramos loucas. Disseram também que éramos bem parecidas, que uma era muito mais bonita do que a outra. Diziam que não arranjaríamos emprego, que não tínhamos a cabeça no lugar, que acabaríamos mal. Nenhum garçom jamais se atreveu a cobrar de nós até os últimos centavos, as dívidas eram perdoadas porque uma bebia e a outra tinha uma aparência tuberculosa muito suspeita. Os amigos de uma de nós gostavam muito de outra de nós. Os amigos de outra de nós detestavam uma de nós. Quando estávamos acompanhadas de muitas pessoas, conversávamos mentalmente. Sentíamos um tédio mortal se estávamos separadas e fazíamos de tudo para divertir a todos. Depois era sumir, abraçar a noite, molhar o corpo na escuridão transparente. Depois eram palavras quebradas duras de sair e abraços de meia hora na avenida. Depois era a chuva, brigas entre conhecidos, acidentes de carro, carreiras, pântanos, bailes, neblina, incêndio, bolinhas de sabão e cigarros, cigarros, fumaça suspirando e você dormindo.

O quarto era cheio de maços antigos, caixinhas antigas com desenhos que não tentamos colecionar, caixinhas de fósforo, caixinhas de música, caixinhas de jóias, de cartas, fotos, poemas que você fez. Havia um berço desmontado e baldinhos vermelhos e canecos para pitar o cigarro. As paredes eram cor de rosa, o lustre era o teatro de sombras, o cobertor era nosso melhor amigo.

Uma de nós cozinhava para outra. Um dia, fez até ovo cozido. Mas não comiam muito. Gostavam de emagrecer. Uma de nós deixou os pêlos debaixo do braço crescerem para brincar de cinema francês. Nós tínhamos uma bagagem descomunal. Aliás, uma de nós sempre levava mais roupa e a outra, só uma camiseta. Uma das bolsas era de couro preto e a outra, transparente.

No início, uma de nós tinha todos os amigos e conhecia todas as pessoas da faculdade, inclusive donas de casa, estrangeiros, artistas sem dinheiro. Outra de nós quase não falava e quase não tinha amigos, nutrindo um desprezo por todas as companhias da amiga. Com o tempo, a mulher mais social arranjou uma turma, enquanto a outra passou a ser mundialmente famosa, amada especialmente por estudantes anônimos que não freqüentam universidade, e sim livros.

Os nossos pais nutriam respeitosa admiração por cada uma de nós. Todas nós fazíamos terapia e éramos apaixonadas pelos respectivos terapeutas, sendo um deles rigoroso e o outro, compadecido, e vice-versa.

3.
No pingue-pongue agora. Uma de nós jogava nervosa e queria ganhar com todas as forças de sua precária lucidez. A outra, pouco preocupada, arriscava golpes altamente técnicos e fazia alguns pontos, dançando inclinada sobre a mesa como se fosse lamber o recheio do jogo. Já a outra, longe da cobertura, não se decidia entre a elegância e alguma outra coisa que ela não sabia o que era e que poderia tê-la feito brincar. Assim que uma de nós disse Você precisa ver como você está e a outra entendeu, relaxou um centímetro e meio do seu corpo e ao final as duas cantaram “Não tem prêmio N.1”, enquanto o jogador sangüinário de pingue-pongue e o jogador oriental se enfrentavam. E o oriental fazia alguns pontos e quase ganhava, e o jogador sangüinário contraia úlcera, e nós íamos embora.

4.
Tudo o que o cinema fez de ruim, a argila fez de bom. A dobradura e o violão, a voz que chegava tão alto, com todas as cervejas e os cigarros Yes que engordavam a conta, sem nada para comer, quase sempre.

5.
Acordei no Domingo sem cor. As pessoas da casa foram tomar café da manhã numa padaria gostosa. Me convidaram, Você tem três minutos. Não acordei a tempo.

6.
Reescrevi tudo isso depois, depois que já era depois. Escrito no ano passado. 2003.

7.
Guardo comigo,
Minha amiga. Mesmo hoje, que passado ou presente são a mesma massa insuportável de lembranças e mágicas que entram sem bater.
Tem dias que o sono vai embora e o frio penteia meu cabelo e diz: vai, minha filha, deixa suas lágrimas na minha boca. E eu deixo.

Gosto muito de você, minha querida.
Minha querida que também tem nome difícil, claro.
Se cuida, molha o rosto como você fazia. E não corta muito o cabelo. Continua linda.





Wednesday, March 17, 2004
 
por um tempo

vou ficar em silêncio por um tempo.

Sunday, March 14, 2004
 
Quarta-série

Ela não sabe porque as meninas se escondiam dela no intervalo.
Ela ficava procurando, procurando, e nada.
Sentava na rampa, o coração doendo.
Depois de alguns anos, ela sabe que não é porque a professora dava carona. Depois de alguns anos, o coração doendo.

Sunday, March 07, 2004
 
O vento sopra

o vento sopra e meu barquinho navega no Word.

Tuesday, March 02, 2004
 
2003 - SOMETIMES SALVATION
[setembro de 2003, março de 2004]

*idéia que me ajuda a escrever

tomava um remédio que inibia emoções.
podia ficar horas olhando a janela, o tapete e o sol...
fazia reticências numa folha de papel, para traduzir o que sentia.

PESADELO

todas as pessoas estão apaixonadas por você. todo mundo te ama.
você começa a correr, os carros e os cachorros te acompanham, o sol, as folhas de outono, os mendigos, as senhoras, os skatistas, as crianças, o amor. você pensa que a morte deve estar brincando.

corte.

você está apaixonado por todas as pessoas. seu coração apita como um cuco maluco dentro de você. você é tomado por uma furiosa gargalhada. você ri.
acorda de noite, vomita, dança, dá as mãos para alguém que segura bem de leve as suas mãos, tão de leve que é impossível escorregar.
é impossível escorregar, é impossível escorregar no oceano.

*
quando a gente se abraça, meu coração beija o seu.

*
o escritor encontrou uma bela mulher lendo o livro que ele escreveu.


1.
"bem vinda ao mundo dos que amam de verdade"

2.
"não existem limites para a fantasia e a imaginação" - a garota das neves agradece.

3.
"tenho toda a esperança do mundo em seu sorriso" - a garota das neves agradece mais uma vez.

4.
ele tinha duas mulheres. você acha pouco? já dava trabalho demais. lorena ficava fumando de botas pelo apartamento, falando que só ela tinha insônia, que só ela sentia náusea, que ela não aguentava mais as fotografias. isabela tinha outros problemas. isabela levava muitas cantadas, isabela tinha medo de literatura. para cada foto nova de lorena, isabela comprava um par de sapato.

ele vivia de dia com isa, de noite com lóri. é lógico que lóri dava mais trabalho. mas parecia mais independente. isabela segurava as pontas. o mundo não estava desabando ou tinha desabado pra ela. nunca seriam amigas.

lorena engolia tudo, remoía tudo, sofria tudo.
isabela não engolia nada, não silenciava nada.
passavam dias assim.

DUAS MULHERES

Lorena ficava fumando de botas pelo apartamento, falando que só ela tinha insônia, que só ela sentia náusea, que ela não agüentava mais as fotografias. Isabela tinha outros problemas. Isabela trabalhava demais, Isabela tinha medo de literatura. para cada foto nova de Lorena, Isabela comprava um par de sapato.

O dia era de Isa, a noite era de Lóri. é lógico que Lóri dava mais trabalho. Isabela segurava as pontas. O mundo não estava desabando ou tinha desabado para ela. Isa passaria o fim do mundo fazendo as unhas? Também não é assim.


NA PADARIA

- não adianta fingir, eu conheço você.
- então me conta, me conta o que você sabe.
- você quer mais sorvete, não quer?


À MARGEM

olha lá, ela está sangrando no fundo do mar.
enquanto a mais nova faz xixi.


A MULHER CONTENTE

machucava todo mundo com seu sorriso secreto.
o sorriso escapava pelo cheiro da pele.


SENSÍVEL

- ele está bem?
- ele está no maior sentimento.


ORIGEM

- onde você conhece essas pessoas?
- não é só dentro da minha cabeça, se você quer saber.


SAUDADE

Lorena já está sentindo falta de Raul. Começa a esculpir, num silêncio agressivo, provas de insanidade. Isso deixa todo mundo puto da vida. De madrugada, por exemplo, desenhou pelas paredes de todos os andares. Meninas mortas, coelhos assassinos, espantalhos de gravata, anêmonas dentro de cubos, gente sem cabeça.

As crianças adoraram. Algumas completaram as cabeças que faltavam, outras ainda desenharam ovos de páscoa para os coelhinhos. Afinal, era abril.


[ ]...
Sua boca é um ponto final, seu olhos são dois pontos, seus seios, duas vírgulas, seu colo, parêntesis.
O coração não parece ter pontuação nenhuma.


O MAURO, A BÁRBARA E EU

acordei com vontade de tomar sorvete. Mauro estava dormindo de lado, sem camisa, de cueca branca. Metade do lençol embrulhando seu corpo, boca meio aberta.

faz pouco tempo que nos conhecemos. eu ainda gosto de provocar, ainda faço surpresa com qualquer coisa. tiro um sonho de valsa do bolso, molho os cabelos depois de sair do banheiro, deixo a maquiagem carregada e a alça do sutien aparecendo, tiro os sapatos, rolo no chão, ou fico inventando histórias sobre a minha vida, cidades que visitei, banhos de mar à noite, porres homéricos, tudo mentira.

ele também me conta preciosidades, diz que já trabalhou vendendo alma para o diabo, diz que já trocou muita alma de poeta por preso político e muita alma de mulher de malandro por alma de músico. ele tira o que restar da pessoa, paga o que ela achar justo, e depois usa as memórias para escrever.passa horas anotando tudo. as almas ficam guardadas nas bonequinhas russas do móvel da sala. a maior delas é de uma menina de cinco anos que tem o maior senso estético de todo o ocidente. depois vem as outras almas, também muito boas. a maioria é de mulher.

tem a alma de um dançarino de tango, tem a alma de um fabricante de perfumes, tem a alma de uma dona de casa pervertida que passou quase toda a vida dando risada antes de gozar.

ele diz que também quer guardar a minha, se eu quiser, ele me garantiu que metade ainda fica comigo e a outra metade eu tiro da menina de cinco anos. Ela se chama Bárbara, é loirinha, quieta. eu acho que ele está se sacanagem comigo. vai chover de tarde e vamos acabar tomando chocolate e voltando no assunto. por enquanto eu fico olhando para as coisas do quarto e querendo jogar quase tudo fora. não ver nunca mais. começou com as fotografias.

ele vai dizer que com a alma de Bárbara eu não vou precisar pensar sobre essas coisas. mas eu sei que Bárbara é muito severa. eu sei que ela diz o que dá na telha. se ela está perto de fazer alguma coisa que ela gosta, ela sai correndo agitando os braços e dizendo: "sorvete! oba!", como se estivesse sozinha no mundo, só ela e o sorvete. eu tenho medo de falar sozinha, principalmente medo do que eu posso responder.

Mauro continua dormindo. ele não sabe que acaba de me tirar todo o peso. ele não sabe que eu comecei a ver coisas, que as paredes se enchem de brilhos estranhos, que há barulho de sinos e grunidos de búfalos pelo apartamento. gnomos, Bárbara vê gnomos, com chapeuzinho vermelho e tudo, rolando pela sala. mas ela percebe que só ela vê. nem mamãe, ninguém. e os gnomos vão embora, rapidinhos.

Mauro dorme. acordado ele também é bonito.
Bárbara dorme. não parece estar viva.
eu sempre tive medo de dormir.
eu nunca sei quando eu estou mais bonita.

Bárbara penteia os meus cabelos e Mauro sorri.


Mais uma fotografia.



ENFIN

o cinema, o cinema é o culpado de tudo o que nos aconteceu.


DE TARDE

e então ela diz que vai descobrir todos os lugares onde ele sente prazer.
só depois de lamber seu corpo todo é que ela acende um cigarro.
e sorri.

JE T’AIME

estou engolindo a sua falta como quem come papel

escrito.

afinal eu tinha escrito com estrelas e raios de sol na grama que estaríamos juntos e sim, mais uma vez, uma vez pequena, sinto tanta saudade do que eu senti por você, me fez uma pessoa tão bonita, tão cheia, tão vadia, que dava altas gargalhadas, acordava, colocava música ruim para tocar e se embrulhava no lençol no maior estilo deusa do amor e da alegria cheia de raízes.

naquele tempo, os dias me beijavam o rosto.


ELES

acendem e apagam sorrisos dos lábios.
por causa daquela mulher.


ELA
você está derretendo como o gelo na minha barriga.
você está derretendo. eu quero te buscar, quero comer você com manteiga.
você tem gosto de chuva.

ela quer mastigar tudo de uma vez, mesmo que não possa engolir.
ela quer virar comida de peixe.
ela abraça nos sonhos, pessoas que não queria que existissem.
ela não beija em sonhos faz tempo.
ela tem uma amiga que olha tão no fundo dos seus olhos que ela sente que estão num mesmo lugar.

como se ocupassem o mesmo lugar,
por terem aqueles olhos.
olhos que estão incomodando os outros.

uma delas até se preocupa com isso, mesmo que não possa evitar.
a outra faz como quem respira.


NO METRÔ

lembrou-se de tudo. o casal de adolescentes, o fichário, o uniforme, o estojo, o bolsinho secreto, o boné bordado, o tênis, as pichações na mochila, o rabo de cavalo, o beijo na entrada e na saída, lembrou da festa, de vodka com coca, lembrou das meninas, dos amigos, lembrou do piso do banheiro, do primeiro cigarro, dos brincos de argola, da tatuagem de uma semana, os jogos, o campeonato de handi, as guerras de papel, água, os professores, o porteiro, os times, tênis de futsal, os pais, pular o muro, enganar o guarda, cabular, fazer sexo, tomar chuva, passar de ano. as matérias, as fórmulas. quem tinha tomado, usado, trazido, largado, ficado, passado, comido, escrito.

quem tinha escrito seu nome na carteira?

não era o antigo namorado. era aquele garoto que tinha os olhos azuis, e que olhava como se fizesse um pedido. aqueles olhos segurando uma pasta escura, aqueles olhos que traíam o terno e a gravata, aqueles olhos combinando com sapatos, olhos de arquiteto.

fraja oleosa e salgada, cortina, estrela partida, esfarelando, secando, cimento, estuque, peixe, régua de arrependimento, silêncio azul marinho.

era amor?, era só uma admiração? vontade de sofrer?
desejo de ter e ser tão linda. carinho perdido. estilhaçado. bilhete em branco.
memória falhando, qual era mesmo o nome dele? ei, perdi a estação...

janelas de sempre,
sempre, sempre
mais tarde.

AMIGA

uma amiga me ligou assustada com o número de pessoas que não podiam mais deixar de amá-la. com o tempo ela vai entender que isso acontecerá com qualquer pessoa que ela conhecer, quer dizer, com todas as pessoas que puderem conhecê-la. sou eu quem vai dar a notícia. e nós vamos brindar com champagne e morangos. all night long.

*
toda flor é uma tragédia.

PARA A MULHER QUE BRILHA NO ESCURO

Brilha a noite que é seu vestido, a valsa que é sua comida, a vontade de abraçar o mundo que você leva nos braços, e a vontade de abraçar alguém, que você leva nas pernas, desenhando cenas com seus passos, desenhando amantes e o fundo negro do mar dos teus desejos, essas coisas que a tua passagem revela, os sonhos que criam raiz fora do cinema, longas tranças de desejo... caranguejos prateados.
(se você pular, eu não te seguro, mas eu garanto que estou aqui embaixo).


CIDADE DOS SONHOS

lorena andava pela rua debaixo do sol forte. começa a rachar um sorriso fantasma e um encontro de rugas em seu rosto de estátua líquida.

bocas dançam agora pelos corredores compridos que ela monta e desmonta, alagando encontros com esquecimento, não sem algum prazer.

senta o cigarro na mureta de um banco. naquele dia as pessoas não estavam prestando muito atenção nela, o que era uma bênção.

no meio de um corredor escuro, um grito chamou seu rosto na rua:

- ei, moça!

as paredes dos castelos viraram farelo, mais uma vez farelo, e estar na rua era como beijar a lua antes de dormir.

- oooooooooooooooi...

encontra o primeiro homem. bonito e cheio de trabalho no carro, com um amigo. ela dá um pulo dentro.. afinal, é pra isso que inventaram quatro portas.

nos primeiros minutos seu rosto está tremendo, quente, e ela tem medo que sentir vergonha deixe as bochechas piores do que já estão. mas sabe que ele não diria nada, mesmo que soubesse. passa muito tempo até poderem falar um para o outro. até que aquele golpe deixasse o choro patinar as bochechas. bochechas suadas em forma de obrigada. não pode deixar de ficar longe de meninos. além do seu mundo, páginas de nicotina e lua fria, os meninos bebem a sua carne, vão beber a sua carne, sabem pelo cheiro, que ela quer.

testemunhar.

- qual é seu lugar preferido?
- eu sempre quis e sempre quero estar em Menino Contente.


NÓS

estamos lado a lado, sem roupa, olhando para longe, deixando o momento entrar. é uma das minhas tatuagens preferidas.

olho para os ferimentos que nós temos, e eles são tão bonitos porque cada um tem o seu, e nenhum deles é culpa do outro. tudo o que você e eu.
tão difícil lembrar do quanto ser amada por você, que eu amo tanto, me assustava, ..............., me dava vontade de sair correndo para o escuro, e mesmo assim, eu não chorava.eu nem encontrei ainda o lugar para morar. o lugar e o que eu vou fazer com todo isso que enche o meu quarto.
uma noite de sono, um porre no meio da semana, um choro no parque.
estou para essas coisas agora.

[fim do material de 2003].
Monday, March 01, 2004
 
E você, abandonaria um livro por mim?



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