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tudodenovomesmo
Wednesday, February 25, 2004
 
CARTA PARA O MEU AMOR


Você disse que ia entrar para ver o que eu tenho feito.

Respondi que está tudo uma bagunça, que tem caroço de pêra e cinzeiro vazio por todo o lado. Que os livros estão amontoando aqui e ali, que o sol não entra direito e as fotos amarelaram assim mesmo. Te falei que ando sem orgulho de mim, que ando contando mentiras. A verdade é que estou com medo das coisas começarem a ficar importantes, como eu suspeitei que fossem. E pior, as coisas se multiplicaram.

Seu pai quase derramou lágrimas em mim, ele não tem mais muito medo do amor, mas eu ainda sou medrosa, sou aquela que não chora mais. Eu gostei e eu mereci, ele é muito bonito e de repente eu virei testemunha desse tipo de coisa. Agora que parei com as fotografias. Agora quero afundar a cabeça em todos os meus medos.

Tenho medo agora, da janela começar a criar cortinas. Tenho medo de acordar e uma das asas da janela ter começado um vôo no meio da noite e acabar parando no telhado. Tenho medo de aprender a chorar, porque até agora o disfarce tem funcionado muito bem, mas eu perdi um guarda chuva e meus bolsos estão cheios de conchinhas coloridas que sorriem para mim a qualquer hora do dia.

Até meu sangue deve estar diferente e isso não mudou o peso de muita coisa, mas eu não sei se é verdade. E quando você diz meu nome pelo telefone eu sei que o sorriso do meu rosto é meu mesmo. É o sorriso daquela mulher bonita.

Tenho medo da tua suavidade, tenho medo de desmanchar a qualquer momento. Começo, depois de doze diários, a parar de pedir e de esperar. Uma amiga disse que eu estava apaixonada, mas não é bem assim. Dessa vez. Eu estou nos bastidores de uma coisa grande. De um acontecimento esperado, da grande arrebentação. Eu estou no meio da espuma, de vez em quando. Porque algumas pessoas acabam conseguindo, lidar com esse costume, se desabituar a ter respostas prontas, imprimir um pouco do que o que seu coração escreve. Dolorido, tirar a roupa, mas temos escolha?

Você disse que ia passar por aqui para ver o que eu tenho escrito, eu não sei se eu consigo te dizer o que eu senti depois que você falou sujo comigo, depois que eu falei sujo com você, depois que a gente se sujou tanto, e do ataque de riso, porque a gente não tinha morrido e estava de novo juntos.

Você disse que a mulher que você conheceu mudou muito, e eu disse que eu também sou ela. Meu pulmão deve ter reivindicado um cigarro nessa hora. Mas essa mulher também me abandona. Tudo isso acontece comigo agora.

Flores acendem e apagam no jardim. Num dia estou descalça, no outro estou vestida. O amor fica cortando a vida de um monte de momentos difíceis cheios de coragem. Eu acho que se eu continuar vivendo assim eu vou chorar todos os dias. Mas é só um pressentimento.

Eu estou estranhando, eu estou gostando muito dessa mulher, dessa mulher que minha melhor amiga de 1997 disse que eu tinha, me dando uma bronca num dia de óculos escuros que eu nunca esqueci. Não tenho falando com ninguém a respeito dessa nossa história, não porque eu não consigo, mas porque também eu não sei contar. Os meus amigos estão cuidando do coração deles e o meu está oleoso, babando, derramado na cama.

Os meus amigos estão se apaixonando entre eles e isso escorre de mim.

As minhas pernas precisam de um pouco de sol, mas estou bem.
A verdade é que esse é o melhor medo que eu já senti na vida.

Gosto de você. Gosto de abrir as cortinas.

Posso morrer hoje. Mas quero agradecer a Deus e encontrar meu namorado amanhã.


O céu está avermelhado. O amor está me machucando. Posso até dançar.


Até que enfim.




 
tudo se mistura e está doendo.

medo. medo e medo de perder o medo.
 
tudo se misturando. nos meus olhos.


Tuesday, February 24, 2004
 
LEITURAS

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- me diz alguma coisa.
- com ou sem açúcar?
 
volto de viagem, cheia de coisas. coisas e mais coisas. e preciso trabalhar os textos, preciso melhorar os textos, preciso engordar, cuidar da saúde, ter disciplina com os remédios, comprar roupa nova, ler os livros começados, milhões deles, que me incomodam e se espalham pelo quarto.

a casa está triste e pela primeira vez em muito tempo isso me impressionou.
não sou só eu quem está sentindo que as coisas vão mudar, é um hálito de perda que se estende por todos os cantos, entra pela janela junto com a falta de sol. uma friagem que vai aumentando até que ninguém sente nem sede.

esfria tudo.

eu estava com medo de falar sobre isso. mas os sinais vão aparecendo. os sinais de que ele ou ela não estão bem, os sinais de que eu estou longe daqui sem escolher.

não é a chuva que atormenta, mas ninguém quer dizer o que é.

foi bom viajar.





do outro lado está sol, eu não tenho culpa disso.





Friday, February 20, 2004
 
RASPAR O JARDIM ATÉ AS NUVENS


O urso gosta de mim, a boneca não.

Desde cedo, quis cuidar das janelas, da noite, das árvores da rua.

Escrevo bilhetes, fumo cigarros, uso camisola para acordar no cinema, ando o quarteirão ao lado da princesa, dei uma volta de bicicleta no palácio, descobri filmes na televisão, a madrugada, o poeta, a valsa, o perfume do moletom do namorado da amiga, o Sábado, o maior dia de todos.

A chuva de verão é o melhor remédio depois do choro, o banho, o sono e os cadernos aumentam de tamanho. O sono e o choro, com o tempo, diminuem.

A companhia de um gato é mais difícil que a de um cachorro, o tempo passa e amacia o fim de tarde. De vez em quando, apaga uma segunda-feira.

Certeza é uma palavra suspeita, mentira também.

Começo a escolher palavras como companhia...
açúcar,
outono,
netuno,
veleiro.

Como foi que cresci? Desconfiando. De muita coisa. A vida toda para lembrar que perdi o jeito. Amigos que não voltam mais porque não existem mais, os anjos sabem.

Essa idéia faz bem,
essa idéia se agarra na outra,
aquele pensamento apaga o sorriso,
me tira o sono,
dá vontade de dançar.

Mágoa, Insônia, Piedade e Santa Alegria. O sono tingiu meu melhor vestido, o escuro caiu tão bem na pele, rosto e cabelos molhados, mas depois,

depois depois depois

,

uma vírgula basta.

Agora abre, garota, o tronco da árvore para outra árvore, apaga o luar dourado para a lua no seu pescoço. Eu sei, é bom chegar.

Ela começa riscando a página, começa dizendo não. Até o coração gastar toda a tinta escura e clara, até o sol fritar oleoso, até o sol chover, e quando chove,

chove chove chove
,

chove no rosto dela, chove macio.

Começa a raspar o jardim, até as nuvens.

Eu e minha amiga, avançamos no escuro sem fim.

A garota aceita mais um pedaço de bolo?
A garota aceita mais um elogio?

a garota usa vestido,
solta o cabelo,
tira o sapato,
aprende a cantar,

ela abraça o sobrinho quando está chorando,
me conta como ficaram quietos na cama,
ele veio abraçá-la, seis anos, entende tudo.

A garota onde tudo cabe dentro dela,
a garota um abraço dela,
um abraço meu,
o sobrinho,
entra de boca fechada na minha vida.

a garota abre a boca para falar outra coisa que quer dizer sempre a mesma coisa que não pode ser dita assim fácil, em todo caso,
é importante.

Raspar o jardim até as nuvens,

o capuz,
a sandália,

uma oração.

Vacila, estrela,
vacila pontual,
para o meio da folha,
para a palma da mão,

deixa tua boca no meu ombro,
teu nome curto e teu abraço,
minguando.

vacila suave,
sabe que o horizonte é mentira?
está enchendo aqui
as cortinas, o véu transparente que ela usa
é feito de amor.


estamos sentindo muito forte. ensaiando para avançar mais.




é bonito, é grande e vai acabar comigo.



que seja.












Tuesday, February 17, 2004
 
mundo cinzento, não transpareça assim.
 
NA CAMA


Ele pode deitar, ela vai descobrir todos os lugares que ele gosta, vai passar a língua, as mãos, os pés, a barriga, vai ficar com corpo dele, com os olhos fechados. Está perfeitamente concentrada num joelho, num cotovelo, numa parte das costas que lembra aquela escultura. Seu corpo vai virando um pedaço de argila para brincar, um pedaço de argila cheio de calor, um pedaço de argila.

Os músculos, a modelagem, respirando diferente, o corpo aceita, é fácil. Debaixo d’água. Depois ele começa. Ela ganha um banho atrás do outro, ensaboada com gestos, lambidas, passeios cheios de sal, frases bonitas que os gestos escrevem na pele, debaixo do braço, da nuca, das pernas sem a vontade de cruzar as pernas, gesto que não apaga a lembrança que essa noite desenha em todos os cantos do dia seguinte.

Deixando o ar entrar e sair. Caindo nos lábios frios do sono azul.



Sem dormir,

de olhos fechados



amêndoa doce, caramelo molhado.

bolinha de gude guardada no escuro,

sem chorar nem rir,


chorando, rindo.







Sunday, February 15, 2004
 
O que não tem cura


Amor.

Mundo cinzento.

Coração cheio.



O baile de sombras.


Friday, February 13, 2004
 
O MUNDO DO TRABALHO


Quantas vezes você é obrigado a esbarrar numa pessoa que te incomoda profundamente a ponto de você correr o risco de renunciar à própria felicidade por alguns minutos do seu dia? E se essa pessoa estiver toda hora perto de você? Não vale a pena você deixar a própria integridade à mercê das forças do mal e de problemas que são a mais fina e completa ilustração de um grande desconforto ético, psicológico, moral, físico, religioso, espiritual.

Um psico ia dizer que você está ganhando alguma coisa com isso, que você é que está permitindo que isso aconteça, que você pode enfrentar a situação, que esse tipo de pessoa está em qualquer esquina etc. Nada contra desenvolver suas defesas e poder colocar seus próprios limites, se isso não significar tornar-se um cidadão adequado, aquele que “dança conforme a música”, porque, uma hora ou outra, isso afeta seu precioso senso crítico, e ele garante que você não se estatele no buraco negro das más escolhas.

A questão com a psicologia é que ela pode deixar tudo o que você pensa orbitando ao redor de problemas pessoais, enquanto o funcionamento das coisas ao seu redor parece exigir certas reações, estas mesmas explicadas pelos mesmos motivos. Isso me parece meio terrível.

Existem pessoas e situações que realmente prejudicam nossa alminha boa. E isso tem a ver com autonomia e autoridade. Tem a ver com escolhas, evita fatalismos, é a tal história do livre arbítrio.

Se você pensar que é o grande senhor do próprio destino e que você escolhe seu caminho do guerreiro, não faz sentido nenhum continuar a obedecer ordens de um superior que não parece e não se esforça para apresentar - ou talvez isso não seja necessário -, qualidades de superior. E quais seriam as qualidades de superior? Bom, cada um escolhe seu mestre (ou é escolhido por ele), eu não vou começar essa lista agora, mas fica de lição de casa. Enfim, são valores, habilidades, coisas importantes. E seu chefe, sentado ali na mesa da frente, desfila uma rara lista de equivocadas decisões que afetam sua vida, seu dia, a saúde de seus órgãos vitais. Diante da amplidão desse rio de prazeres, o que fazer?

[Para algumas pessoas nada disso existe, mas elas não moram desse lado do mundo. E essa é uma observação importante que rende outras conversas, mais bonitas, sobre poesia, religião, conversas sobre como o pensamento fica viciado nisso e naquilo, em como realiza as mesmas equações, em como pode dar um passo adiante, em como vivemos bem - bom esse tema, aliás.]

Conheço gente que vive bem trabalhando, gente que gosta dos chefes, gente que ganha grandes oportunidades, mas conheço gente que agride os órgãos vitais todos os dias com histórias nem tão bonitas do mundo do cidadão ativo. E além disso, existe a terrível coinciência entre o pessoal da turma que já está ganhando muito dinheiro e o pessoal da turma que está entrando em crise. Ah, mas eu não quero falar sobre isso agora.

Aliás, é extremamente difícil falar sobre essas coisas. Conheci um doutor que achava certo transformar seu hobby em trabalho, mas quais os riscos dessa operação? Para o artista, viver num lugar onde o que ele faz é visto como passatempo é um golpe de infelicidade. Ninguém pensa: “Que médico vagabundo esse, só fica abrindo e fechando gente”. Não, o médico não será nunca um vagabundo, mas o artista sim, o músico só está ali se divertindo, certo? Não. O médico salva vidas e o artista? O artista mantém a vida.

Não concordo com esse lema "arte inútil", e toda essa história do que é útil é ruim. Quanto ódio das máquinhas nesse coração! Está na hora de ter raiva das idéias ruins, das idéias que diminuem as boas possibilidades.

Se as pessoas não conseguem pensar numa utilidade para a arte isso não é nenhum sinal de libertação. Pelo menos não parece.

Tem muito médico ruim costurando mal as pessoas, tem muito advogado sem caráter, e tem muito músico bom por aí. (faltou dizer que temos ótimos médicos e péssimos músicos, mas para bom entendedor...)

Mas para que serve? E daí entramos no grande terreno do “para que serve”. Valores, sentido da vida, o conceito de riqueza e de novo o assunto vai se aproximando das grandes questões.

Depois que você fica um tempo sem trabalhar, se você era uma daquelas pessoas brilhantes que estava apertando botão, atendendo telefone, lavando prato, ou fazendo qualquer coisa que violenta sua alminha, muitas coisas podem acontecer, entre elas, o clima de cobrança, o dinheiro acabando, a ansiedade, mas também um lado de conforto para a alma, de entendimento, de percepção de sutilezas e de grandes descobertas. Um tempo para poder fazer boas leituras, bons amigos, bons passeios, um tempo fértil. Um tempo no qual sua alminha boa não está pedindo socorro.

Bom, mas se esse tempo chegou é justo desejar e agir com todas as forças para que não termine de novo, para que você possa continuar criando e descobrindo coisas, certo?

As pessoas que sabem que precisam de autonomia e de grandes experiências, o que elas querem fazer? Trabalhar? Num trabalho que faz mal aos órgãos vitais, acho que não. Tem um momento na vida que te ajuda a perceber que não adianta mais pegar o atalho, porque ele ficou terrivelmente infinito com o tempo.

Depois de assegurados o “estar dentro do mundo”, a grana, depois de saber lidar com responsabilidades, com a autoridade, com as diferenças (depois de alguns acertos espirituais também) e saber como fazer para evitar a destruição progressiva de seus gostos, ideais e órgãos vitais, o trabalho continua necessário, ou o que importa é continuar aprimorando o que você faz e transmitir isso para quem você quiser?

E isso entraria num outro tipo de trabalho.

Tudo isso sem falar no amor.

Acho que esse momento de estar sem trabalho é terrível e valioso. Porque ele pode fazer você pensar sobre o que você vai continuar aprendendo na vida. Precisa ser uma coisa que te dê a possibilidade do infinito, e isso pode acontecer com apertar parafuso, se isso realmente fizer sentido para você, as possibilidades de apertar parafuso....bom, mas esse foi um mal exemplo.

Mas de vez em quando é como travar uma guerra silenciosa contra a falta de valores que você pode esquecer que estão faltando, mas não pode esquecer de sentir que estão faltando.

Hoje de manhã, no jornal, tinha uma foto de uma mulher sentada num daqueles mini postes de rua que só servem para você estraçalhar o joelho, sabe? Sentada ali, mão apoiando a cabeça, assistindo uma peça de teatro na rua. Não li a reportagem mas fiquei pensando nessa cena terrível. O que é um artista para os habitantes da cidade de São Paulo e como são as pessoas chamadas de artistas? É ruim pensar nisso. Eu perderia o sono se não tivesse acabado de acordar.

[Mas para minha amiga que está procurando emprego e tem Sol na 12, eu tenho um recado especial: a arte continua puxando o seu pé na cama todas as noites, você fala como escritora, suas frases têm uma poesia elementar, natural, sua, e ficar sempre nos bastidores não vai te deixar esquecer que você canta muito bem e toca e faz argila, dobradura e além disso, astrologia. Você devia andar com um gravador, gravar todas as suas conversas com seus amigos, depois lançar um livro. Todo mundo ia se apaixonar pelo personagem que seria você, pelo seu jeito de aliciar, de fazer conciliações, de oferecer compaixão e colo e meninices, de dar um basta nas conversas muito chatas com seus truques sem segredo. Se eu pudesse captar, eu mesma faria isso. Mas é difícil lembrar dessas coisas.]

[De qualquer modo, desejo um profundo sentido e um caminho macio para todos os meus amigos sem trabalho, com trabalho, e um lembrete especial para Juliano, que publica sua primeira resenha: Juliano, parece que acabou o tempo de "jugar à las escondidas..." :o) Sorte para você, confie cegamente no seu taco, isso equilibra tudo].


O médico e o paciente, a fisioterapia;

- Imagine um fio de seda verde puxando você da sua cabeça. Andando assim, você endireita a coluna.
- Mas por que um “fio de seda verde”?
- Antes eu dizia “imagina um fio de aço saindo da sua cabeça...”, mas um dia um paciente achou ruim imaginar isso. Então eu mudei, e agora uso o fio de seda verde, e tudo funciona bem.
- Ah, sim. Mas verde claro ou escuro?



Thursday, February 12, 2004
 
estão felizes e começam a dançar. é isso.
 
DE UM DIA PARA O OUTRO


Os homens de capuz, cigarro, ídolos esquisitos que nunca te disseram nada, ou te disseram demais, não ao ponto de você querer construir nenhum altar, nem a ponto de animar a estante, são os homens que ficam em silêncio, não você.

De um dia para o outro aquele cara ali, encostado na coluna, que não sabe fazer um elogio, tirar sarro da sua cara, beijar você dormindo, só fuma os cigarros, só reclama assutado, detesta e se incomoda, vai continuar encostado na coluna.

Até que ele também, ele também, começa a desconfiar.


Também o mundo cinzento tem seu pôr do sol.




 
Ela disse que só estende a mão quem está de pé. Ela disse. E outras coisas que me deixaram um pouco mais interessada na vida, mais do que eu achava que podia estar. E foi assim. Depois outra bronca, até eu não precisar mais ouvir de ninguém aquelas duas ou três coisas importantes que descobri. Para fazer como se nunca tivesse deixado de aprender como se faz.
Isto é, respirar melhor.

Sempre agradeço os mesmos agradecimentos.
Durmo e acordo com eles.
Wednesday, February 11, 2004
 
NADA IMPORTANTE


Ela derrete antes do primeiro toque, sem falar nos dias azuis, quando não precisa de mais nada. No jantar, confessa uma tristeza que evaporou.

Esse outro mistura "festa" com "pedido de socorro", e fica aquecendo o amor no peito. Leve inquietação, sorrisos só dele.

Sorriso bonito, cabeça de vento. Por que essa luz, tão forte?, o coração, meu deus, tão grato, a euforia de quem não enxerga um palmo do horizonte. Sente cócegas e carinho por conta do cabelo daquela mulher que dita elogios antes de ir.

Canteiros de flores, camadas escuras.




DE MANHÃ


o carimbo de um ingresso de cinema,
um cd encostado,
um trabalho de psicologia que você indicou para ler,
uma camiseta na bolsa,
teu hálito,
e o sal que nunca se desprende de todo,
a noite,
um punho que dobra,
soluços, espirros,
gargalhadas, sono, abismo,
a tessitura do lábio, o cabelo, a nuca,
a impressão de ter te conhecido.








Monday, February 09, 2004
 
DENTRO



todos os poros, noite fria. eu disse todos os poros.



coqueiro, mato, escuro.

...

é você?

quebra sempre todos os meus ossos.

ele não tem palavra e eu...

escondo o que posso nos bolsos,
dentro da calcinha,
embaixo da língua,
até que o corpo dobra um c de acabou.


respiro.

dançando com os dedos.

...

naquela noite bati os tacos da bota no asfalto bem forte.

era verdade.

verde, árvore, vamos ficar mais um pouco?


lua minguante.


...

banho de chuveiro.


vamos ficar mais um pouco?


e vamos dormir, que eu não aguento tanto.


chove chove chove

chove depois depois depois



estou dentro.


 
SOBRE NÃO CONSEGUIR ESCREVER

estou vendo que tem muita gente boa que está escrevendo sem muita inspiração. não é nenhuma espécie de consolo e não me deixa mais ou menos desesperada e afinal, eu não tenho nada a ver com isso.

escrevendo direto no espaço do post, sem mexer com os últimos acontecimentos. sem criar nada, nada, nada.

... aquela sensação de novo, de não estar aqui, das coisas simplesmente acontecerem todas num único dia da semana e depois tudo morrer, daí ressucitar numa quarta feira, inesperadamente.

ao som do piano, de um caminhão, do liquidificador. BRRRRR.

acho que preciso me perdoar de não estar conseguindo. estou abalada com alguma coisa tão enorme que não posso.... não sei nem se é boa ou ruim.

e essa merda de língua que só tem ou,ou,ou. esse pedaço da laranja, desfavorecido, sem império e sem religião.

está tudo na grande gaveta do sub.

não é assim que os médicos explicam?

procure no sub, baixe o id, está tudo lá.

fuckers.

como alguém faz para se perdoar?

como alguém vai dormir sem conseguir?

o sono é um bom cobertor.

...

muitos pedaços faltando.

não entra nem sai mais nada daqui.

sem nicotina.

e coisas que não posso nem sequer chamar de motivos.

sem nicotina,

sem motivos.

os médicos estão todos aqui, falando em responsabilidades.

o cavaleiro se perde na escuridão.






Wednesday, February 04, 2004
 
.....................

..

....... . . . .. ...
Tuesday, February 03, 2004
 
que saudade, que saudade de andar de trem... um sono profundo, o barulho da máquina, o vagão suave, o silêncio bruto, os apitos, as curvas na estrada com os pais e filhos acenando para alguém que sorri da bicicleta...

saudade de passar um dia inteiro sem barulho e sem medo.

cansada, ainda cansada, contente, ainda contente.

Monday, February 02, 2004
 
nem sempre dá para escrever sobre as coisas, entende?

nem sempre sou bem vinda,

nem sempre recebo visitas.

é isso. cansa. e é sempre igual.

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