<$BlogRSDURL$>
tudodenovomesmo
Thursday, January 29, 2004
 
a felicidade não quer ouvir minhas perguntas,
nem meu "muito obrigada".

acontece e pronto. quando um gato pula no seu colo, só dá tempo de prender a respiração. então é isso.

estou sem nada nos bolsos agora, Mágoa, Insônia e Piedade emagreceram.

mundo cinzento, quase esqueci de você.
 
adoro seu jeito de evitar as palavras.

tão mais elegante que o meu.



você tem preconceito com quem fala muito? eu tenho.

teu silêncio não gosta de barulho?




tá me escutando?



já dormiu?
 
VERDADES DIFÍCEIS

- e então?
- e então...?
- você acha que teve algum momento de verdade em todo o seu dia?
- lá vem.
- não vai responder?
- responder o que? o que você quer?
- saber se você não teve um, pelo menos um momento de verdade nesse seu grande dia.
- acha que depende de mim?
- você acha que depende de quem?
- eu acho que você é que está querendo me dizer alguma coisa, não é isso?
- é, na verdade eu queria te dizer uma coisa sim.
- então fala.
- ...
- vai, qual é a grande verdade que você tem para me dizer?
- quero te dizer, ... quero te dizer que me arrependo muito.
- se arrepende do que?
- me arrependo terrivelmente de ter começado essa conversa.
- é isso mesmo que você tem para me dizer?
- é, por que?
- achei que você fosse dizer que gosta de mim.
- ah, bom.... isso também.
- ...
- você já sabe, não é?
- já.
- ...
- ...
- eu sou um idiota, pode falar.
- [suspiro]... hoje você não está na sua melhor forma.
- como assim?
- você nem quis abrir o presente...
- que presente?
- esse aqui, atrás dos botões.



Saturday, January 24, 2004
 
PARA VOCÊ, CADA VEZ MAIS DOCE

(Não há nada tão elegante do que alguém te receber com Debussy, como se nada tivesse acontecendo, te mostrar Debussy no stereo antes de dormir, gravar Debussy para você escutar, abaixar o som quando você tiver dormindo no puf e o Debussy estiver indo longe demais para o seu sono...thank You por isso e por cada coisa linda que você faz.)

(Tem alguém que sabe a hora de aumentar e a hora de abaixar o Debussy da vitrola).

Só não queria morrer sem deixar escrito que é o sentimento a causa de tudo.



- Ela está bem?
- Ela está no maior sentimento.




Friday, January 23, 2004
 
ELA

precisa andar de moto até o fim do mundo.


no começo, achou que seria fácil com as fotos. mas não foi. não queria aquelas imagens costuradas na cabeça, costuradas com sua vida, costuradas de qualquer jeito ou muito bonito como aderem à pele, mas não, não queria.

e agora é como ter sentido a doença por muito tempo e ter tomado todo o antídoto de uma vez. um choque. a claridade.

sentimentos bons e ruins juntos.

esse raio de sol me dá outro nome, outro jeito de andar na rua e de dormir na cama.

precisa fazer as pazes com momentos assim,

sangue azul, mar azul,

sim, é cansativo.


EU

a sua nuca eu posso beijar. eu beijo. estou perto de novo.

...


derramei tudo.




Wednesday, January 21, 2004
 
" ah, os prazeres do intelecto"
-papai


Monday, January 19, 2004
 
balões coloridos cheios de segurança ganham o céu.

vai chover.





Sunday, January 18, 2004
 
a mulher contente e a velha bonita


por aqui, por ali.


 
feche um pouco o futuro,
pare um pouco o tempo,
e os juízes da sua cabeça.

quando apaixonada, gostava de lembrar e fazia mil vezes por dia:
"desta vez, não é um personagem".

depois dava uma risada bêbada,
arregaçava a calça e a blusa e tomava sol.

 
minhas mãos nas fotografias
meu silêncio insuportável

o sorriso espatifado no chão.

posso dançar na rua, se começar a escrever.


 
OBSERVAÇÕES

- escrever mistura dor e alegria.
- desse jeito, ela vai ficar com um olho de cada cor.


- você sabe como essas coisas começam?
- crescendo desproporcionalmente?
- yep.
Saturday, January 17, 2004
 
você é a chuva mais bonita que já caiu em mim.

você não queria ser nada além da brisa do mar.

todo o escuro dos meus olhos pode morrer.

vou morrer quantas vezes eu precisar para que o escuro morra um pouco.



 
tudo é bonito mesmo quando você não conseguiu.

mundo cinzento, somos da mesma seiva prateada,

da mesma nuvem gasosa,

do mesmo coração escuro,

dos guerreiros que morreram, das sereias que esperam,

caracóis lentos no jardim molhado.
 
é mais caro estar desse lado.

do lado que machuca.



amor.

chuva prateada.





o que eu faço com o sentimento?

novelo de lã,

desfiando.

mulheres bonitas vagando pelos quartos,

mulheres bonitas experimentando vestidos no espelho.

cantando sóbrias.

cantando enquanto colhem flores de dentro da piscina.

minha flor aguada, beija meus cabelos, te levo na orelha.

minha amiga.

dançando na chuva,

chorando de vergonha, de medo,

tudo cheio de sabor.

agradecendo tantas vezes em segredo.

me espatifando nas linhas da tela branca.



deixa eu me render, mundo cinzento.



 
não inventaram uma palavra que vem depois da fé.

depois que você tem fé, ou coragem, devia ter outra palavra.

uma palavra que lembrasse espada e escudo.

uma palavra que lembrasse mulher capaz de amar com mulher que pode morrer hoje.

uma palavra que me desse o conforto de dormir sem cobertor.

uma palavra que assegurasse o amor eterno de todos os meus amigos.

que explodam as circunstâncias, e que eu pague o preço de querer mais dessa vida, já sei quanto custa.

os verdadeiros amigos têm coração forte e sabem que não podem desprezar a beleza.

ingartidão com a vida é vulgar.

quem pecou sabe.

anjos trarão meu choro e meu sorriso de volta.





 
NO ESTÚDIO

Então o diabo fala para o artista: Eu te falei que isso cansa.

E o anjo fala para o artista: Não esquece de se alimentar.
Friday, January 16, 2004
 
Piedade me contou que é preciso alimentar a sorte, comprar um lanchinho da tarde, deixar a lancheira com suco gelado a seus pés.

Piedade me disse que o sol começou a brilhar no horizonte. A sorte começa a mastigar. Flores nascem nos vasos da cozinha, o sorriso cola mais fácil no rosto.

Esverdeado esse cinza dos meus olhos.
 
bom saber que vou te encontrar.

Thursday, January 15, 2004
 
É você quem está chamando sem saber.


Você, com todas as suas delicadas explosões de alegria e medo,...

quer poder servir de areia para o mar, quer servir de mulher para um homem, quer servir de papel para o lápis. Você quer servir de maçã para a boca, quer servir de lago para o escritor, quer servir de música para o piano, para a flauta, para o violino, o pandeiro, quer servir de tambor para as mãos, quer servir de terra para a árvore, você quer servir de amigo para o amigo.

Você pode criar.

pequeno e imenso.

perdido com o melhor de si.


 
THE BRIGHT SIDE OF THE MOON



As pessoas costumam falar mal das mulheres com uma precisão incrível. Mas não conseguem falar bem com a mesma precisão. O que as pessoas elogiam
nas mulheres não é nem bem elogiado. Eu passo nas bancas, eu vejo
mulheres nas capas de revistas. As mais interessantes são as mulheres que
estão mais taradinhas, de couro, de roupa de banho, fantasiadas. Mas muitas
vezes elas têm aquela mesma expressão no rosto, aquele “tô gostosa”. Não
parece que elas estão pensando em sexo. Tudo bem, vão falar, "ah, mas ela
pode estar com a cara que ela quiser", mas esse não é o ponto.

Ela não está com cara de quem queimou o bolo, ou vai assaltar alguém, não está com cara de quem ganhou na loteria ou bebeu além da conta. É sempre a mesma cara de bunda. Eu tive a sorte de ter uma amiga (que hoje saiu do país) que pensava muito em sexo. Um dia a gente estava andando na rua e ela disse: “começa a pensar em sexo e você vai ver como os homens vão olhar para você”. Tudo bem que nós duas não somos de se jogar fora, mas a coisa é interessante.

A cena era cinematográfica, você começa a pensar em sexo e os homens olham para você como se você estivesse coberta de leite condensado, com um morango em cada peito. Lógico que a gente não fez isso por muito tempo, menos de um quarteirão e eu já estava extasiada. Daí sentamos, acendemos um cigarro e entramos no cinema. O cinema é um dos melhores lugares para você explorar a visão de uma mulher. Eu acho que se eu fosse um cineasta, eu filmaria duas horas de cenas com mulheres nas mais variadas situações. Com uma boa trilha sonora, uma condução interessante, você assegura um sucesso absurdo. Aposto que muita gente iria mais do que duas vezes ao cinema (é só pegar Oito Mulheres como exemplo).

A televisão também poderia fazer esse serviço. Ao invés de deixar você com essa casa mal assombrada vigiada 24horas, poderia oferecer um canal com 24horas de cenas com mulheres. No canal seguinte, cenas com mulheres sorrindo, no seguinte, cenas com mulheres chorando, no outro, na cozinha, no outro, pulando corda, tomando banho, dançando peladas, colocando a roupa, tirando a roupa, brigando, vestidas de assassinas, rainhas, mendigas.
O mundo é louco de ainda não oferecer uma coisa dessas. Depois seria
possível partir para coisas mais elaboradas, uma novela só com mulheres, um canal só com shows de cantoras, de Ella, Janis, Dolores, Elis, depois um pouco de Aguilera, e enfim, a mulher de camisola do Evanescence, a vocalista do No dout. Ia ser bem legal assistir televisão. Ia ser bem legal viver nesse
mundo.

Especiais de cinema, intercalando a Tatou com a Ludivine, a Bohan-Carter com a Carie Anne Moss, enfim, o mundo seria diferente se as pessoas certas estivessem no comando.

Mas eu delirei e me perdi. Eu estava falando que as pessoas não sabem falar
bem das mulheres, e eu estou falando sério. Uma fotografia de mulher pelada
que seja chocante, que deixe seu coração desesperado, que deixe você
dependente estético da presença da quela pessoa, com a irrefutável
descoberta de que sua vida nunca mais será a mesma agora que você sabe
que não está perto daquela mulher, é uma coisa difícil de encontrar nesses
dias malditos.

Uma foto com um bom par de olhos firmes, contentes, serenos, ou pensando em sexo, não está por todas as capas de revista. Isso porque com todas as coisas desse mundo é assim. Os momentos verdadeiros custam, custa tirar uma boa foto, custa falar coma sua voz mais doce, custa se entregar a qualquer “bom dia” mais humano. Como se a sensibilidade estivesse ficando cada vez mais cara.

Você não sabe se deve ou não cumprimentar o seu vizinho, porque todas as pessoas são fukers em potencial querendo te f. Você não sabe se faz um elogio ou abraça alguém, as coisas mais simples como tocar uma pessoa estão virando tabu. Nunca se ouviu falar tanto em sexo, mas o sexo nunca foi tão plastificado pela jontex. Sexo, mexer no cabelo de alguém é sexo, tocar de leve é sexo, respirar perto do rosto de quem você ama é sexo, sentir o seu corpo perder todo o peso, isso também. Não sou contra as fotos de mulheres com cara de "tô gostosa", que bom que elas existem, deviam circular muito mais, só que existe mais coisa a ser feita.

Mas eu delirei de novo. Eu estava falando sobre como é difícil falar bem das
mulheres. As malditas. Tudo bem, tem uma Clarice, tem uma Hilda, tem uma
Silvia Plath, uma Jorie Graham... mas também tem uma Cecília Meireles, tem
uma Carson Mccullers, uma Louise Glück dentro de cada mulher. Tem
margaridas, patinhos, tem força, entusiasmo, tem destruição, tem o dia
caindo, tem a noite chegando, mas o mar está brilhando com a espuma
branca, tem um barquinho no horizonte, tem alguém vendendo picolé ali do
lado, tem mulher que se inclina para olhar o ipê amarelo da esquina.

Eu sei, eu sei que tem a sede, tem o descontentamento, tem a ansiedade,
tem a exploração do labirinto, da angústia, do amor mal pago, tem o jeito
jornalista de ser, tem a afetação, a nicotina, tem o “serei sempre um
mistério”, tem o "nunca estou contente", tem o equivocado “cadê a felicidade”,
tem o meu “parei de fumar”, mas tem a mulher de olhos fechados, a mulher
dormindo, a mulher dando um sorriso, cantando sozinha na praia (Alba, essa
é para você).

Desapego, tem a sensação de desapego sim, tem a cinderela, tem a sessão da tarde, tem querer ser a Naomi Campbell, a Binoche, a Juliette Lewis, a Adjani, tem querer cortar os pulsos e morrer linda, tem querer dirigir filmes, tem querer ser a Rosselini, mas tem querer ser a Cláudia Abreu também, a Fernanda Torres...é sério.

As mulheres cansam, mas elas não são só malditas. Elas são um poço de
ternura, um envelope de esperança e uma rajada de flores cintitantes.
As mulheres merecem muitas homenagens, e uma nova ilhazinha só para elas
e para homens convidados.

É isso.


Friday, January 09, 2004
 
. .. .... .. . ............. ..... . .. ....

você está sentindo?

...... ... .. . . . . . . .............. . . . terminou?
 
ADEUS

as malas ainda não estão prontas

não sabe que pode ir embora

ela carrega toda a bagagem

ao abrir a mala, nenhum cobertor, nenhum canivete, nada.
Friday, January 02, 2004
 
NOVE DE COPAS
Para você, Thiago.





Mais uma vez.


Acordo com a nítida sensação de que o dia vai ser enorme. Lavo o rosto. Prendo o cabelo. Escovo os dentes. O tênis de sempre encontra meus pés, os dois se reconhecem. Já estou fora de casa. Carros vão cortando as esquinas, tubarões arranhando o mar, deslizando no asfalto. Começo a andar sem pisar na linha, depois seguindo a linha, e aí, de olhos fechados. Quando abro os olhos, estou de frente para uma casa abandonada.

As janelas, o telhado, as paredes, a escada da frente, tudo encoberto. Parece uma boate que não deu certo. Sinto um gosto ruim na boca. Sigo em frente, esqueço a brincadeira das linhas. Os pés vão mais pesados. Na próxima rua, um prédio fechado, no quarteirão da frente, blocos de casas escuras transformam meu susto inicial num jogo incompreensível.

De uma pequena porta de garagem, vem chegando uma viúva. Do outro lado da rua, homens trabalham para encobrir a faixa de pedestres. Um garoto passa com sua bicicleta sem colocar as mãos no guidão. Da padaria, duas meninas de onze anos fazem bola de chiclete, mas parecem que elas mastigam pneu. Esfrego os olhos, mas é inútil. Decido interromper a viúva assim que ela passar. O céu continua azul. Ela está vindo. Por favor, você poderia me dizer, por que está tudo apagado? Você não sabe? Dizem que um grande amor terminou aqui perto.

Mais uma vez.

Acordo com a nítida sensação de que o dia vai ser enorme. Lavo o rosto, prendo o cabelo. Escovo os dentes. Meus pés reconhecem o tênis de sempre, os dois ficam amigos. Já estou fora de casa. Escuto os motores de carro rasgando o asfalto. Começo a andar sem pisar na linha, depois seguindo a linha, e aí, de olhos fechados. Quando abro os olhos, estou na frente de uma casa amarela.

As janelas, o telhado, as paredes, a escada da frente, tudo brilhando. Parece outra cidade. Sinto um gosto de sal na boca. Sigo em frente, esqueço a brincadeira das linhas. Os pés vão mais devagar. Na outra rua, um prédio inteiro amarelado, no quarteirão da frente, blocos dourados transformam meu susto inicial num jogo incompreensível.

De uma pequena porta de garagem, vem chegando uma loira. Do outro lado da rua, homens trabalham para instalar faróis amarelos no cruzamento. Um garoto passa com sua bicicleta sem colocar as mãos no guidão. Da padaria, duas meninas de onze anos seguram um gato. Esfrego os olhos, mas é inútil. Decido interromper a loira assim que ela passar. O céu continua azul. Ela está vindo. Por favor, você poderia me dizer, por que está tudo dourado? Você não sabe? Dizem que um grande amor começou aqui perto.

Mais uma vez.

Acordo com a nítida sensação de que o dia vai ser curto. Lavo o rosto, prendo o cabelo. Escovo os dentes. Meus pés fazem amizade com o tênis. Já estou fora de casa. Escuto os motores de carro flutuando nas esquinas, espalhando no asfalto molhado as marcas dos pneus. Começo a andar sem pisar na linha, depois seguindo a linha, e aí, de olhos fechados. Quando abro os olhos, estou na frente de uma grande construção.

As janelas, o telhado, as paredes, a escada, cintilando. Parece uma escola. Sinto um gosto de estréia na boca. Sigo em frente, esqueço a brincadeira das linhas. Os pés estão mais leves. Na próxima rua, um prédio novo, no quarteirão da frente, blocos inteiros sofrendo reformas transformam meu susto inicial num jogo incompreensível.

De uma pequena porta de garagem, vem chegando uma menina. Do outro lado da rua, homens trabalham para ampliar toda a avenida. Um garoto passa com sua bicicleta nova. Da padaria, duas meninas de onze anos sopram bolinhas de sabão. Esfrego os olhos, sorrindo. Decido interromper a menina assim que ela passar. O céu continua azul. Ela está vindo. Por favor, você poderia me dizer, por que está tudo diferente? Você não sabe? Estão preparando a cidade para um grande amor.

Mais uma vez.




Powered by Blogger